Histórias Incríveis de Umbanda 1

Não me cansarei de dizer que a Umbanda é maravilhosa, que as entidades que estão com a gente são maravilhosas e que nosso Terreiro, o Terreiro do Pai Maneco, é maravilhoso, magnífico, como dizem uns.


Na última gira de 5ª feira era um dia especial para mim por dois motivos: o trabalho a ser realizado para a Kyona e a capa que Seu Tiriri iria ganhar. Para tudo isso eu já estava me sintonizando com o astral no dia anterior. Sabia que seria um momento especial.

Na primeira parte dos trabalhos, linha de cura, linha do oriente, Dr. Viktor veio tranquilamente, porém com uma densidade pouco maior que o habitual. Não sei se para me preparar para o que estava por vir ou se isso fará parte até meus últimos dias trabalhando na Umbanda. 

O fato é que antes mesmo de iniciar o trabalho propriamente dito, ou seja, colocar os consulentes no leito, minha cambone Andrea vem com uma criança de 6 anos chamada Vitor que, de cara, disse para o Dr. Viktor: “Oi, eu também sou o Dr. Vitor e quero ajudar trabalhando aqui hoje”. Para meu espanto, apenas meu, Dr. Viktor respondeu que não haveria problema e que naquela noite ele, o Dr. Vitor, ou seja, a criança comandaria todo o trabalho naquele leito. Gelei, claro.

A primeira emoção veio quando a criança, já com uma consulente curada de um câncer e que toda vez deita-se ali naquele leito, estendeu a mão como dando um passe e disse ao pé do ouvido daquela senhora: “Fica tranqüila, você vai ficar curada”.

Depois disso foram emoções seguidas de emoções. O Dr. Viktor trabalha de acordo com as necessidades da noite. Porém algumas coisas são feitas em seus trabalhos: sempre há uma vela pelo espírito de quem está sendo atendido; sempre utiliza folhas e ervas para passar nas pessoas; quase sempre o algodão está presente para “limpar” alguma coisa; a vela sempre é utilizada como fonte de calor e luz nos consulentes sendo passada em determinados pontos do corpo, mas principalmente nos chacras.

As pessoas iam sentando-se lado a lado sendo por cada vez um total de quatro consulentes. Assim que todos estavam sentados aquela criança dizia em alto e bom som: “Sejam bem vindos a este Terreiro”. Após passar as ervas nas pessoas o Vitor pedia sempre um algodão que prontamente era dado pelo Dr. Viktor. Assim, ele passava o algodão no corpo dos consulentes e dizia: “Você vai ficar bom”. Em seguida ele dava o algodão pro Dr. Viktor passar nas costas dos consulentes. “Toma, pode passar nas costas deles”.

Tem mais coisa pra contar, mas essas são as mais interessantes. As pessoas na assistência estavam emocionadas, assim como eu, e era visível a energia que aquela criança passava a cada um de nós que ali estávamos.

Finda a gira fui conversar com a mãe dele. Esse menino de seis anos é transplantado de um rim e sofreu dois derrames. Disse mais: que desde os seus três anos ele sempre falou no Dr. Viktor. Confesso que depois que o Terreiro estava vazio sentei numa cadeira perto da Curimba e comecei a chorar de emoção.

No dia seguinte a notícia do desencarne da Kyona. Pronto, passei a manhã pensando, chorando, analisando. E tomei uma decisão baseado no que presenciei naquela 5ª feira. Naquele dia vi a vida e a “morte” juntas. Ou será que vi a vida em sua plenitude, tanto naquela criança que ao chegar ao leito do Dr. João – médico que trabalha com a Ana Paulo – disse que não queria deitar ali, pois já estava cansado de hospitais e só queria ficar bom logo. E perguntou, na lata: “Eu vou ficar bom?”

Minha decisão: a partir daquele dia não mais me preocuparei com o dia de amanhã. Com o que nos parece impossível. Tudo passa muito rápido. Devo fazer com que meu dia seja especial todos os dias. Devo me entregar à vida com amor, fé e determinação. E assim será!

Saravá!